Kantuta - Um pedaço dos Andes em São Paulo.

01/11/2015 23:04

   A feira da Kantuta, localizado no bairro do Canindé, zona norte de São Paulo é um pedaço dos Andes nessa megalópole. E poderia surgir a questão: Más vários lugares encontramos bolivianos, peruanos... enfim povos andinos perambulano em São Paulo... e de fato isso acontece, porém esse feira tem uma atmosfera especial.

   Primeiro, ela definitivamente não é uma feira feita para brasileiros, e sim de bolivianos para bolivianos. Entendi essa manifestação como uma maneira deles estarem em comunhão, matar a saudade da "patcha mama" estando tão longe.

   Sabemos a situação que a maioria dos andinos vivem aqui no Brasil. Em sua maioria trabalham com produção de roupas, algumas vezes trabalho escravo, com um salário baixo e que tem que ser multiplicado para manter o custo de vida aqui e ainda enviar o que sobra para a familia que ficou por lá. Existe um filme besta más que retrata essa polêmica, o filme do "Crô", que aborda o trabalho escravo nas fabricas de costura no centro de São Paulo. Um breve rolê no centro flagamos vários deles vendendo suas roupas de marca "falsa" para poderem sobreviver. Muitos explorados, vivendo em condições dificeis, e mesmo assim dispostos a prosperar, claro de acordo com o que esse sistema brutal pode oferecer. Esse é um tema complexo que pode ser discutido em um outro momento, a ideia aqui é falar sobre a encantadora manifestação cultural desse povo.

   Pele morena, olhos puxados, lingua hispânica... Me senti na Bolivia... Desde comidas tipicas a corte de cabelo... Um espaço para a integração e lazer.Uma criança passa correndo do meu lado com um brinquedo estranho na mão "depois descobri que era só uma linha enrolada na pedra", tipo aquela que os muleques usam para dar relo em pipa...e sorridente...adolescentes paquerando...idosos com uma pele muito marcada... dentes de ouro, pelo menos eu acho que era de ouro, não quis ser deselegante...

   Para começar a experiência vamos falar de gastronomia: 1) Milho Preto...isso mesmo, um milho preto chamado Chicha Morada. Claro, completamente estranho e tipico dos Andes usado para fazer suco. O gosto é uma verdadeira bagunça, da para sentir gosto de canela, limão, abacaxi e claro da própria Chicha Morada, essa que por sua vez tem um sabor que não consigo assimilar com nada, realmente exclusivo. O saquinho, tipo Tang custa 2R$ e as espigas que segundo uma chola "mulher tipica boliviana" rende 15L custa 3R$, compramos, ela me explicou como faz, eu ja esqueci e provavelmente vou ferver mesmo e tentar comer do jeito que comemos o milho amarelo. 2) Mocochinchi - Suco de pessêgo. O copo com 400ML custa 2R$ e vem com um pessego dentro do copo, más claro que não é como o nosso pessêgo. Parece desidratado e o sabor identico ao nosso chá gelado. 3) Salteñas – Salgado recheado com um tipo de sopa dentro, vem inclusive com uma colherzinha. Atenção, não morda o meio se não estiver prepardo para um banho de caldo quente. Tire a ponta e faça da massa uma espécie de copinho, assim é possível saborear de verdade... é claro que a Márcia abriu pelo meio, más no final deu tudo certo. Custa 5R$ e sem sombra de duvidas é melhor do que qualquer salgado que encontramos nas padarias. Os temperos são típicos também, tem tanta coisa que não da para especificar, só sei que é muito gostoso. 4) A cerveja tipica da Bolivia é a Paceña. Hoje com o modismo de bebidas internacionais e de fabricação caseira ficou mais facil o acesso a essa cerveja. Na Kantuta o valor é de 10R$ a lata, muito acima do preço das nossas devido a alta do dólar. O sabor é forte, amarga...particulamente eu gostei, achei melhor do que qualquer uma brasileira, as ditas tradicionais. Como não sou muito fã de cerveja, ficou mais facil chegar a essa conclusão...vale a pena experimentar comendo uma salteña. 5) Inka Cola – Refrigerante de Tutti-Frutti, produzido pela Coca-Cola. Caríssimo, 8R$ 500 ml e 25R$ 2L. Para experimentar é válido. O gosto é fraco, como sou um viciado em Coca-Cola não dá nem para comparar. Segundo os andinos, esse refrigerante é o mais vendido deles... Se eu morasse lá teria uma vida mais saudável quanto a isso, pois, certamente só tomaria suco. Eu achei ruim, um misto de água com gás e um leve sabor adocicado.

Além disso, existe grande variedade gastronômica, comidas típicas como coração de boi, o famoso pollo... Comemos somente isso, entretanto, voltarei lá para comer um big prato. 

   Artesanato: A feira não é muito grande, então devia haver meia dúzia de barracas vendendo artesanato, porém, com um grande repertório. Uma toalha feita segundo os andinos com lã de Ilhama, bolsas e mochilas com o mesmo material, lembrancinhas típicas de viagem, enfim, o que não falta é com o que gastar dinheiro. Compramos uma mochila, uma bolsa, uma toalha (para fazer de canga na praia) e um colar com um sol da cultura andina. O sol é muito forte nessa cultura, praticamente todas as manifestações artísticas idolatram o sol, assim como seus antepassados. Os valores são bem variados, as mochilas e bolsas custam 40R$, toalhas variam: pequenas 35R$, médias 45R$ e grandes 70R$. As lembrançinhas típicas de viagem variam de 15R$ a 30R$.

      Uma barraca vende passagens para a Bolívia também, como tenho vontade de fazer o mochilão pelo trem da morte até Machu Pichu fui me informar. Os ônibus saem do Bras, o que já me leva a entender que são clandestinos... Para La Paz a passagem sai por 450R$, 3 dias de viagem, para Puerto Quijarro, divisa com Corumbá e local de saída do trem da morte o valor é de 265R$. Não sei até onde compensa, já que na rodoviária da Barra Funda a passagem para Corumbá sai por 280R$. Sobre esse mochilão, é um sonho fazê-lo, porém, quando estava planejando 1R$ valia 4 bolivianos, moeda boliviana, hoje a cotação esta 1R$ para 2 bolivianos, então, por enquanto to fora, deixa o dólar abaixar novamente.

   Duas barracas vendem dvd´s e cd´s com musicas típicas. Acostumei a ver em vários locais de São Paulo bolivianos tocando suas flautas e eu aprecio muito o tipo de som, então compramos um mp3 de musica instrumentalizado e um com vozes também. Não dá para dar uma festa, mas dá para ser bem aproveitada em um momento de relaxamento, meditação ou apenas para ter contato com a musica andina. 

   Essa é uma breve apresentação sobre essa feira, para aqueles que curtem um rolê diferente fica a dica. Peguem um dia de sol e vão almoçar por lá com a familia e amigos. Tomar uma breja diferente, um copo de pisco (pinga andina - não experimentei) e apreciar a cultura de um povo taxado como amargurado, porém, muito feliz.

Boa trip!

 

Galeria de fotos: Kantuta - Um pedaço dos Andes em São Paulo.

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