João Pessoa de bus? Logo ali.

30/11/2016 18:36

Novembro de 2015, cansado do marasmo de São Paulo, com um grande amigo de infância em férias e com dinheiro na conta. Papo vai, papo vem e de repente surge um papo que tivemos em nossa adolescência: - Um dia vamos juntos para a Paraíba. O Paulo Back´s, diz que estaria indo na próxima sexta feira e eu logo me prontifiquei. A semana se desenrola e na quarta feira confirmo que poderia ir também. Sem perder tempo fomos ao Terminal Tiete providenciar as passagens uma vez que em cima da hora as passagens para irmos de avião estavam muito caras. Passagens compradas e era só esperar o dia. Márcia seria madrinha de casamento de uma amiga e eu ficaria meio que de bobeira, então sem constrangimento em abandonar minha parceira por uns dias, e claro, estava em uma ótima companhia também uma vez que tenho laços “familiares” com meu parceirão.

Chegada a sexta-feira, nosso bus partiria as 13:30, seriam 50horas de viagem. O destino era Belém, que fica a 2hrs de João Pessoa, no sertão paraibano. Não eram nem 11:00 horas e já estava no Tiete comprando revistas, umas guloseimas e esperando o Paulo chegar com sua filha. Isso mesmo, uma menina de 5 anos, a Dona Ligia foi incumbida de cuidar de nós e para tomar as devidas providências para voltarmos vivos. Imagina, 2 malucos perdidos na Paraíba.

O bus saiu com muito atraso, a galera levando os mais estranhos apetrechos na viagem, geladeira, fogão e afins. Tudo tinha que ser pesado, pois, existe uma taxa para passageiros que ultrapassam seu limite. Saída normal e nesse primeiro dia foi tudo muito tranqüilo, estávamos empolgados, fazia muitos anos que meu brother não via seus parentes. Até o momento ninguém no ônibus se conhecia, então o silêncio imperava. Primeira parada ainda em São Paulo, município de Queluz. Desci, tirei uma foto de uma represa, uns fumaram, outros comeram e a viagem prosseguiu.

OBS: O bus costuma parar de 4 em 4 horas e de 6 em 6 trocava o motorista.

No fim da tarde o ônibus já estava passando por Volta Redonda. Cidade sem muita graça “pelo menos a parte em que passamos”. Um grande pólo industrial, muitas fábricas, nada demais. No inicio da noite já adentramos o estado das Minas Gerais. Como disse anteriormente a galera ainda não havia se conhecido, porém estávamos no fundo do busão, mais precisamente ao lado do banheiro, então todo mundo que passava eu falador como sou já caçava assunto. Ainda ficamos acordados por um tempo, logo todos apagaram as luzes e dormimos. Nas paradas eu acordava, descia, tomava um café e voltava a dormir. Minas Gerais tem uma grande extensão territorial, parece que a Bahia nunca vai chegar. A BR 116 é a rota perfeita para uma Road trip. Pela manhã já estávamos agoniados, com fome, dor no corpo, querendo um banho. Devido a insistência para o motorista parar a galera começou a se articular e de repente começou uma sincronia entre os passageiros.

Por volta das 6 horas da manhã o bus parou em Governador Valadares, a cidade acabava de sofrer com a tragédia de Mariana. Entramos no banheiro para tomar o sagrado banho e só saia lama do chuveiro, ou seja, nada de banho. Pelo menos deu para escovar os dentes, porém o motorista começou a acelerar, creio que essa parada não tenha demorado 10 min. Sem muito stress entramos no bus e partimos. A paisagem nessa região muda muito na madrugada estava passando pela zona da mata mineira, uma serra perigosíssima, com um motorista cortando na contra mão, essa parte era mais seca, rochas enormes na paisagem, vegetação típica de agreste.

11 horas o bus chega ao município chamado de Ponto dos Volantes. Difícil saber mesmo se era uma cidade. No meio da BR, um ponto de apoio de um lado e um casebre de barro do outro com uma placa indicando que vendia almoço.  Descemos, o Paulo foi dar um banho na Ligia, eu nem quis tomar banho (porquinho). Vi uma galera que já estava acostumado com aquela linha atravessando com uma mala de viagem vazia para o outro lado. Fiquei meio sem entender, porém tava mais preocupado em tomar uma já que estava em solo mineiro. Pedi uma dose de pinga mineira e fiquei curtindo o visual. O Back´s deu banho na pequena, e resolvemos comprar uma marmita para dividir, como não vimos ninguém comprar comida ali resolvemos dividir a marmita em 3. Fomos comendo no ônibus, aliás, a comida muito boa também.

Assim que os caras voltaram do outro lado da pista entendemos o porque da mala vazia. Ela voltou carregada de Pinga Pitu. O latão de meio litro estava sendo vendido por R$2. A mala voltou carregada e daí pra frente o bus foi uma farra. Mais algumas horas o ônibus parou em Vitória da Conquista e pude enfim tomar um banho, claro de 2 minutos, só para tirar o suor do corpo e trocar de cueca. Partimos e em mais algumas horas paramos em Jequié. Agora pensa num lugar quente. Calor impossível, já era sábado, tava tendo jogo da segunda divisão e o Vitória estava conseguindo o acesso. A cidade estava parada, todos ligados na TV, e estando lá já rolou uma comemoração, claro, regada a muita Pitú. Mais ônibus, nesse momento já estava ficando chato, más chato mesmo. A galera já tava a mil no bus, os mais jovens no fundo, os mais “experientes” na frente e uma farra só. A próxima parada seria em Feira de Santana somente. A estrada é uma reta que não tem fim. Já eram 20:00 horas e nada de chegar em Feira... e a galera botando pilha em nós “forasteiros paulistas” de que a cidade era perigosa, de que o bicho pegava. Não vou negar que fiquei aflito, e essa aflição se confirmou a chegar a Feira de Santana.

Chegamos a Feira por volta das 21:00 horas. Parecia mais uma parada corriqueira até que as pessoas pediram para ficarmos em grupos grandes. Era um posto de gasolina na entrada da cidade, mal iluminado e com um boteco. Tudo caro, e depois descobri que os preços para os locais eram um e para os viajantes eram outro. Logo desenrolei um papo com as atendentes e consegui fazer com que o grupo em que estávamos pagasse o valor normal, daí em diante a galera resolveu pegar pesado no álcool, inclusive eu, afinal de contas nem queria ver a próxima parte da viagem. Nessa altura já estávamos parados a mais de 1 hora e a informação do motorista era que iríamos esperar outros ônibus da empresa para seguir em comboio já que havia muitos assaltos nesse trecho. 2 horas e nada, 3 horas e nada... Passavam uns motoqueiros em garupa, ficavam olhando, encarando... enfim, o clima estava tenso. Após quase 4 horas parados seguimos viagem, essa altura em estava meio balão, porém estava tão tenso que não consegui dormir. Fui a madrugada inteira olhando pela janela.

Pela manhã passamos Sergipe, Alagoas e um pouco antes de chegarmos ao Pernambuco eu apaguei literalmente e acordei já chegando em Belém, nem vi passar por Recife nem João Pessoa.

Acordei com o Paulo dizendo que havíamos chego. Procuramos um taxi para fazer o translado até a cidade vizinha, nosso primeiro destino. Conseguimos rápido, aproximadamente 40 minutos depois estávamos desembarcando na casa do vô Bimba. Apresentações feitas, um bom banho para relaxar, uma comida deliciosa e apaguei na rede. Acordei no dia seguinte, estranho, deitado na rede, em um lugar que nem sabia onde era, mesmo porque ainda estava sobre os efeitos das Pitús.

O calor era tipo 50 graus, insuportável na sombra. Resolvamos sair para explorar a cidade, ir ao mercado e afins. Sobre a cidade: - Belém/PB está mais para um vilarejo que para uma cidade. Uma rodovia interestadual corta a cidade e o principal ponto turístico é ficar assistindo a policia rodoviária federal fazer blitz. Clima seco, difícil respirar ainda mais para mim que tenho bronquite e para ser sincero o calor era tanto que nem queria fazer muita coisa, queria apenas me recuperar das 50 horas de viagem. Passou o dia sem muitos afazeres. A noite deixamos a pequena Ligia com os bisavós e fomos tomar um suco no único barzinho da cidade, que por sinal fica em frente da única praça que fica na frente da única igreja. Bar vazio enquanto os botecos estavam lotados. Como não agüentava beber mais nada ficamos ali mesmo, tomamos um suco, comemos um lanche e partiu cama.

No dia seguinte, mais disposto fomos a casa de uma tia pela manhã, más ao andar 5 minutos eu já estava morrendo novamente. Encaramos, é tudo perto más pela temperatura excessiva parecia longe. Na volta paramos para tomar um açaí. Acostumado com os valores daqui já fui preparado, açaí de 400ml, com morango, banana e chocolate em pó, pensei que ia deixar um rim por não ser da cidade quando. Que nada, R$2, isso mesmo 2 Reais... Virei cliente. De meia em meia hora ia lá tomar um açaí. Na mesma tarde seguimos a estrada e fomos até uma parte mais afastada visitar outros parentes do Paulo. No meio do nada, difícil acesso. Depois de uma peleja chegamos e pude ver as mazelas do país. Enquanto o Paulo matava a saudade eu fui querer saber da cultura, como vivem e tal. Ouvi relatos de que não chove faziam 2 anos, o açude estava seco, o pouco gado sobrevivente não tinha mais carne, a cisterna vazia. Ouvi que sobrevivem graças à bolsa família. O povo se reune, faz vaquinha e compra caminhões pipa. Mesmo com todas as dificuldades um povo super receptivo, que dá risada da sua própria tragédia, leva com muita raça. Não tinham água, más gastaram o pouco que tinha para preparar o café. Isso me tocou e me fez rever alguns conceitos. Depois desse role que me foi de muita emoção, voltamos para a cidade e fomos à casa de outros parentes. Papo vai, papo vem, uma marvada chama pinga de Diu que sobe que é uma beleza. Já estávamos em clima de confraternização, risadaria. Tarde da noite voltamos para a casa do vô e apagamos, no dia seguinte iríamos rumar para João Pessoa, queríamos ver a praia. O vô do Paulo já havia até arrumado um lugar para ficarmos, a casa da tia avó do Paulo.

Logo cedo o carro veio nos pegar e partimos para JP. Lá chegando fomos super bem recebidos. Queríamos procurar um hotel para ficar, porém fomos proibidos, depois de muita insistência ficamos na casa mesmo. Largamos as tralhas e partiu praia.

Sobre JP: Não deu para conhecer muitos lugares exóticos. Não havíamos planejado nada, chegamos meio que no escuro, então pegamos um taxí e pedimos para o taxista nos deixar numa praia legal, própria para banho e perto do centro. Deixou-nos em Cabo Branco, praia essa que ficamos os 3 dias em que estivemos em JP. Para ficarmos confortável pagamos R$10 pelo guarda sol já que estávamos com uma criança e lá passávamos os dias inteiro. Na Avenida Cabo Branco existe vários comércios, restaurantes e afins, porém meio carinho por ser considerada uma parte nobre de JP. Alguns ambulantes vendem quentinha na praia por R$10, não comemos, más, vimos vários comer, então não deve ser de todo o ruim. A praia é bonita, de águas claras e tranqüilas, por ser uma praia na região central é pouco povoada. Pudemos aproveitar bem para descansar no caso o Paulo e eu para me embriagar de Diu.

Na Avenida mesmo, existem algumas vans que levam para a praia da Pipa no RN por R$60. Não quisemos ir pelo fato de chegar tarde, já estávamos de visita na casa de pessoas idosas, dar essa dor de cabeça seria um tanto deselegante. O centro de JP é como o de qualquer outra cidade grande. Prédios, pessoas apressadas, prédios antigos, sujeira, porém não avistamos moradores de rua, o que é muito bom, não sei se a prefeitura dá algum tipo de assistência (prefiro acreditar que sim).

Nossa estádia em JP poderia ter sido melhor aproveitada, porém perdemos essa oportunidade. De qualquer maneira vou deixar algumas dicas que nos foi sugerida porém não fizemos: 1) Ir a praia de Cabedelo por trem. A passagem custa 0,50R$. 2) Ver o sol nascer na Ponta dos Seixas, é a parte mais oriental do continente e por conseqüência o lugar em que o sol aparece primeiro. 3) Ir a região da praia de Tambaba, litoral sul da PB e onde segundo os moradores estão as praias mais bonitas e limpas.

Joâo Pessoa no momento vivia um momento de insegurança muito grande. Existem duas facções rivais Al kaeda e Estados Unidos, isso mesmo, cômico se não fosse trágico. Pessoas normais não podem usar nada que remete aos USA que são brutalmente agredidas quando não assassinadas, isso segundo relatos de moradores. Por essa questão ficamos receosos de sair a noite, então não o fizemos. Como pesquisador de desigualdade social gostaria de ter ido a alguns bairros mais pobres porém fui orientado a não fazer isso, como era forasteiro o seguro morreu de velho e fiquei quietinho no meu canto.

Para voltar viemos de bus novamente, ou seja mais 50 horas passando pelas mesmas coisas que relatei na ida, tirando a cachaçada que foi um pouco menor e que dormi mais.

Lembrancinhas: Próximo a praia de Cabo Branco existe um complexo que vende lembrancinhas. Esse é o lugar com mais variedade. Na rodoviária de JP, no andar de cima tem uma lojinha com valores muito em conta.

Alimentação: Os restaurantes da orla são de boa qualidade. Não deixe de tomar o suco de cajá. Aqui temos a polpa e garanto não chegar nem perto. Não deixem de comer caju.

Essa foi nossa trip não tenho tantas riquezas de detalhes por ter feito esse relato quase um ano depois da viagem, porém caso queiram informações mais detalhadas entre em contato que posso ajudar. 

Obs: Para fazer essa trip de bus levem: Lenço umidecido, pois, as paradas para banho são em condições precárias. Lanches e bebidas, pois as paradas são combinadas com as viacões, ou seja, caras. Um bom livro, pois, são 50 horas, eu sou da farra, não sofri tanto, porém pessoas mais introvertidas sofrerão com certeza. 

Boa trip!

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